Don't Let Me Go - Capítulo 2

quinta-feira, 1 de agosto de 2013 | | |





HARRY, APAGUE A LUZ! - Mia soltou um risinho nervoso enquanto assistia a seu marido se despir diante dela. Ele dançava pelo aposento, fazendo um striptease, desabotoando vagarosamente a camisa branca de algodão com seus dedos longos e finos. Ergueu a sobrancelha esquerda na direção de Ma, deixou a camisa escorregar por sobre os ombros, agarrou-a com a mão direita e girou-a sobre a cabeça. Mia riu nervosamente outra vez.

- Apagar a luz? O quê, e perder tudo isto? - ele abriu um sorriso amplo e atrevido enquanto flexionava os músculos. Não era um homem vaidoso, mas tinha muito do que se envaidecer, pensou Mia. O corpo era forte e perfeitamente definido. As longas pernas eram musculosas, em função das horas passadas na academia. Não era muito alto, mas era alto o bastante para fazer com que Mia se sentisse segura quando ele se colocava protetoramente ao lado de seu corpo mignon. Do que ela mais gostava, quando o abraçava, era que sua cabeça descansava harmoniosamente à altura do queixo dele, onde podia sentir-lhe a respiração soprando de leve os cabelos e fazendo cócegas em sua cabeça.
O coração dela deu um salto quando ele abaixou as cuecas, segurouas com a ponta dos dedos dos pés e atirou-as na direção de Mia, em cuja cabeça aterrissaram.

- Bem, pelo menos está mais escuro aqui embaixo - riu ela. Ele sempre conseguia fazê-la rir. Quando chegava em casa cansada e aborrecida depois do trabalho, ele era sempre simpático e ouvia suas queixas. Raramente brigavam e, quando isso ocorria, era a respeito de bobagens que os faziam rir mais tarde, como quem havia deixado ligada a luz da varanda o dia todo ou quem tinha esquecido de ligar o alarme à noite.
Harry terminou o striptease e mergulhou na cama. Aninhou-se ao lado da mulher, enfiando os pés congelados sob as pernas dela para se aquecer.

- Aaaagh! Harry, seus pés parecem pedras de gelo! - Mia sabia que aquela posição significava que ele não tinha a mínima intenção de se mover um milímetro.

- Harry - preveniu a voz de Mia.

- Mia - ele a imitou.

— Você não se esqueceu de nada?

— Não, não que eu me lembre — disse ele num tom atrevido.

- A luz?

- Ah, sim, a luz - murmurou ele sonolento e fingiu roncar alto.

- Harry!

- Que eu me lembre, tive de sair da cama e fazer isto à noite passada.

- É, mas você estava de pé exatamente ao lado do interruptor um segundo atrás!

- É... exatamente um segundo atrás - repetiu ele sonolento.
Mia suspirou. Detestava ter de sair da cama quando estava acomodada e confortável, pôr o pé no chão de madeira frio e então tatear no escuro de volta à cama. Ela reclamou.

- Não devo fazer isso o tempo todo, Mia. Um dia destes, posso não estar mais aqui e então, o que você vai fazer?

- Vou fazer com que meu marido apague a luz - bufou Mia, fazendo o melhor que podia para chutar os pés gelados dele para longe dos dela.

-Ah!

- Ou simplesmente vou me lembrar e eu mesma fazer isso antes de vir para a cama.

Harry bufou.

- Poucas chances de acontecer, meu bem. Vou ter de deixar uma mensagem ao lado do interruptor antes de partir para que você se lembre.

- Quanta consideração da sua parte, mas prefiro que você simplesmente me deixe seu dinheiro.

- E um bilhete no aquecedor central - prosseguiu ele.

- Ha-ha.

- E na caixa de leite.

- Você é muito engraçado, Harry.

— E nas janelas, para que você não as abra e dispare o alarme de manhã.

- Ei, por que você simplesmente não me deixa uma lista, em seu testamento, das coisas que preciso fazer se acha que vou ser tão incompetente sem você?

- Não é má idéia - riu ele.

— Muito bem então, vou apagar a maldita luz. — Mia deixou a cama com raiva, fez uma careta quando pôs o pé no chão gelado e apagou a luz. Estendeu os braços no escuro e vagarosamente começou a procurar o caminho de volta à cama.

- Alô?!!! Mia, você se perdeu? Tem alguém aí fora, fora, fora, fora? - gritou

Harry no quarto às escuras.

— Sim, estou uauuuuuuuuu! — uivou ela ao bater com o dedão contra o pé da cama. — Merda, merda, merda, droga, filho da puta, merda, bosta!

Harry resfolegou e abafou o riso embaixo do cobertor.

- Número dois em minha lista: Tome cuidado com o pé da cama...

- Oh, cale a boca, Harry, e pare de ser tão mórbido - esbravejou Mia, aninhando nas mãos seu pobre pé.

— Quer que eu dê um beijo para passar? — perguntou ele.

- Não, estou bem - replicou Mia num tom triste. - Se eu pudesse somente colocar os pés aqui para esquentá-los...

- Aaaaah! Jesus Cristo, eles estão gelados!

- Hi-hi-hi - ela havia rido.

E assim a brincadeira a respeito da lista havia surgido. Fora uma idéia tola e simples, logo compartilhada com seus amigos mais chegados, Eleanor e Louis Tomlinson. Foi Louis quem se aproximou de Mia no corredor da escola quando tinham apenas 14 anos e murmurou as famosas palavras: ”Meu amigo quer saber se você vai sair com ele.” Após vários dias de discussões intermináveis e reuniões de emergência com suas amigas, Mia finalmente aceitou.

- Ah, vá em frente, Mia - encorajara Eleanor -, ele é tão divertido, e pelo menos não tem sardas no rosto inteiro como Louis. Como Mia invejava Eleanor nesse momento. Eleanor e Louis haviam se casado no mesmo ano que Mia e Harry. Mia era a mais nova do grupo, com 23, o restante tinha 24. Uns diziam que ela era muito jovem e davam-lhe lições de moral a respeito de como, na sua idade, deveria estar conhecendo o mundo e se divertindo. Em vez disso, Harry e Mia viajaram juntos pelo mundo. Isso fazia muito mais sentido porque, bem, quando não estavam juntos, Mia simplesmente tinha a sensação de que um órgão vital de seu corpo estava faltando.

O dia de seu casamento esteve longe de ser o melhor de sua vida. Ela sonhara com um casamento de conto de fadas, como a maioria das garotas, com um vestido de princesa e um dia lindo e ensolarado em um local romântico, cercado por todos que lhe eram chegados e queridos. Imaginou que a recepção seria a melhor noite de sua vida, viu-se dançando com todos os amigos, sendo admirada por todos e sentindo-se especial. A realidade foi completamente diferente.
Acordou na casa dos pais aos gritos de ”Não consigo encontrar minha gravata!” (seu pai) ou ”Meu cabelo está uma merda” (sua mãe), e o melhor de todos: ”Estou parecendo uma maldita baleia! Não vou de jeito nenhum a essa porcaria de casamento assim. Vai ser um escândalo. Mãe, olha para o meu estado! Mia, pode procurar outra dama de honra porque eu não vou. Ei! Jack, me devolva essa merda de sacador de cabelo, ainda não terminei!” (Essas inesquecíveis declarações foram feitas pela irmã mais nova, Clara, que normalmente sofria explosões de raiva e se recusava a sair de casa, reclamando que não tinha nada para vestir, não obstante seu guarda-roupa abarrotado.

Atualmente estava vivendo em algum lugar da Austrália com estranhos, e o único contato que a família tinha com ela era um email a cada poucas semanas.) A família de Mia passou o resto da manhã tentando convencer Clara que ela era a mulher mais linda do mundo. Enquanto isso, Mia vestia-se em silêncio, sentindo-se um lixo. Clara afinal concordou em sair de casa quando o normalmente calmo pai de Mia gritou com a voz mais alta que podia, para a surpresa de todos: ”Clara, este é o maldito dia de Mia, não o seu. E você vai ao casamento e vai se divertir, e quando Mia descer você vai dizer a ela o quanto ela está linda, e não quero ouvir um pio seu pelo resto do dia.
Assim, quando Mia desceu, todos fizeram ”ooh” e ”aah” enquanto Clara, parecendo uma garota de 10 anos que acabara de levar uma palmada no traseiro, olhava para ela chorosa com lábios trêmulos e dizia: ”Você está linda, Mia”.

Os sete se espremeram dentro da limusine, Mia, seus pais, seus três irmãos e Clara, e sentaram-se num silêncio aterrorizados durante todo o trajeto até a igreja.
Agora o dia inteiro lhe parecia um borrão. Ela mal tivera tempo de falar com Harry, já que ambos eram puxados em direções opostas para conhecer a tia-avó Betty, que vivia num buraco qualquer no fim do mundo, a quem não via desde que nascera, e o tio-avô Toby, da América, que jamais fora mencionado, mas que de repente era um membro muito importante da família.

Tampouco a haviam informado de que seria tão cansativo. No final da noite, as bochechas de Mia estavam doloridas de sorrir para fotografias e seus pés matavam-na, por ter de correr de um lado para o outro o dia todo num pequeno par de sapatos idiotas, que não haviam sido desenhados para caminhadas. Queria desesperadamente juntar-se à ampla mesa onde estavam seus amigos, que uivavam de rir a noite toda, obviamente se divertindo. Melhor para eles, pensou Mia. Mas assim que pôs os pés na suíte de lua-de-mel com Harry, seus tormentos desapareceram e o significado de tudo aquilo ficou claro.

As lágrimas rolaram mais uma vez pelo rosto de Mia e ela percebeu que estivera sonhando acordada de novo. Sentava-se congelada no sofá, com o telefone ainda fora do gancho ao seu lado. O tempo simplesmente parecia passar por ela aqueles dias, sem que soubesse que horas eram ou mesmo em que dia estava.


Parecia estar vivendo fora do corpo, adormecida para tudo que não fosse a dor em seu coração, em seus ossos, em sua cabeça. Sentia-se apenas tão cansada... Seu estômago resmungou e ela deu-se conta de que não conseguia se lembrar da última vez que havia comido. Teria sido no dia anterior? Arrastou os pés até a cozinha vestindo o roupão de Harry e seus chinelos corde-rosa favoritos, de Diva das Discotecas, que Harry havia comprado no Natal anterior. Ela era sua diva das discotecas, ele costumava dizer. Sempre a primeira na pista de dança, sempre a última a sair da boate. Huh, onde estava aquela garota agora? Abriu o refrigerador e fitou as prateleiras vazias. Somente vegetais e iogurte com a data de validade havia muito vencida, deixando um cheiro horrível na geladeira. Não havia nada para comer. Deu um sorriso cansado enquanto sacudia a caixa de leite. Vazia. Terceiro item na lista...

No Natal dois anos antes, Mia fora às compras com Eleanor atrás de um vestido para o baile anual que freqüentavam no Hotel Burlington. Fazer compras com Eleanor era sempre perigoso, e Louis e Harry haviam brincado a respeito de como, mais uma vez, ficariam sem presentes no Natal, em função da Jornada de compras das mulheres. Eles não estavam errados. Pobres maridos negligenciados, era assim que as mulheres sempre os chamavam.

Naquele Natal, Mia gastara uma escandalosa quantia no Brown Thomas, no mais lindo vestido branco que já vira.

— Merda, Eleanor, isto vai fazer um rombo enorme no meu bolso — disse Mia culpada, mordendo o lábio e correndo os dedos sobre o tecido suave.

- Ah, não se preocupe, Harry pode costurá-lo para você - replicou Eleanor, ao que se seguiu a sua infame gargalhada. - E, por sinal, pare de me chamar de ”merda Eleanor”. Sempre que fazemos compras você se dirige a mim dessa forma. Se não tomar cuidado, posso começar a me ofender. Compre esse maldito troço, Mia.

Afinal de contas, é Natal, época de presentes e tudo mais.

- Meu Deus, você é tão diabólica, Eleanor. Nunca mais venho às compras com você. Isto é a metade do meu salário. O que vou fazer durante o resto do mês?

- Mia, você prefere comer ou ficar maravilhosa? - Ainda valia a pena pensar a respeito?

- Vou levar - disse Mia excitada à vendedora. O vestido era decotado, o que deixava perfeitamente à mostra o colo miúdo e bonito de Mia, e aberto na coxa, revelando suas pernas alongadas. Harry não conseguira tirar os olhos dela. Mas não por estar tão linda. Ele simplesmente não conseguia entender por que, em nome de Deus, aquela pequena tira de tecido havia custado tanto. Uma vez no baile, a diva das discotecas excedeu-se nas bebidas alcoólicas e conseguiu destruir o vestido, derramando vinho tinto na parte da frente. Mia tentou, mas não conseguiu conter as lágrimas, enquanto os homens informavam bêbados, a suas parceiras, que o número 54 da lista prevenia contra beber vinho tinto usando um vestido branco caro. Então ficou decidido que leite era a bebida favorita, já que não seria visível se fosse derramado em vestidos brancos caros.

Mais tarde, quando Harry derrubou seu drinque, fazendo-o escorrer sobre o colo de Mia, ela anunciou à mesa (e a algumas das mesas próximas), chorosa mas séria:

- Regra 55 da lista: nunca, jamais compre um vestido branco caro. Assim ficou combinado, e Eleanor acordou de seu coma em algum lugar embaixo da mesa para aplaudir e oferecer apoio moral. Fizeram um brinde (depois que o atônito garçom havia entregado a bandeja repleta de copos de leite) a Mia e a sua séria adesão à lista.

- Sinto muito pelo vestido branco caro, Mia - soluçara Louis antes de disputar um táxi, rebocando Eleanor com ele na direção de casa.

Seria possível que Harry tivesse mantido a palavra e escrito uma lista antes de morrer? Ela passara todos os minutos de cada dia com ele até sua morte, e ele nunca a havia mencionado, nem ela notara qualquer indício de que ele a estivesse escrevendo. Não, Mia, fique calma e não seja estúpida. Queria tão desesperadamente que ele voltasse, que estava imaginando todo tipo de coisas malucas. Ele não faria isso. Ou faria?

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1/10 - 29.07.2013  - xoxoxoxo

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