Don't Let Me Go - Capítulo 9

quinta-feira, 1 de agosto de 2013 | | |




Era uma grande moldura de prata, com uma fotografia de Eleanor, Denise e Mia no baile de Natal, dois anos atrás.

- Oh, estou usando meu vestido branco caro! - gemeu Mia de brincadeira.

— Antes que ele fosse destruído — apontou Eleanor.

- Céus, sequer me lembro da foto sendo batida!

- Sequer me lembro de ter estado lá - resmungou Denise.

Mia continuou a observar a foto com ar triste enquanto se encaminhava à lareira.

Aquele fora o último baile ao qual ela e Harry haviam ido, já que ele estava muito doente para comparecer no ano anterior.

- Bem, vou colocá-la no lugar mais importante - anunciou Mia, dirigindo-se à prateleira sobre a lareira e instalando a moldura ao lado de sua foto de casamento.

- OK, meninas, vamos fazer alguns drinques de verdade! - gritou Clara, e todos se abaixaram buscando segurança, enquanto outra garrafa de champanhe era
aberta. Duas garrafas de champanhe e várias garrafas de vinho tinto depois, as garotas saíram de casa aos tropeços e amontoaram-se dentro de um táxi. Em meio às risadas e à gritaria, alguém conseguiu explicar ao motorista aonde estavam indo.

Mia insistiu em sentar-se no banco do passageiro e em abrir seu coração para John, o motorista do táxi, que provavelmente desejava matá-la no momento em que chegaram à cidade.

- Tchau, John - gritaram todas para seu novo melhor amigo antes de despencar sobre o meio-fio na cidade de Dublin, de onde o observaram afastar-se em alta velocidade. Elas haviam decidido (enquanto bebiam sua terceira garrafa de vinho) tentar a sorte no Boudoir, o clube mais elegante de Dublin. O clube era reservado somente aos ricos e famosos, e todos sabiam que se alguém não era rico e famoso, precisava possuir um cartão de sócio para ter o acesso garantido. Denise caminhou até a porta, balançando friamente sua carteira de sócia da locadora de vídeo na cara do segurança. Acreditem ou não, foi barrada.

Os únicos rostos famosos que elas viram abordando os seguranças para entrar no clube, enquanto lutavam para passar, foram alguns leitores da estação nacional de TV, a quem Denise, hilária, lançava um sorriso e desejava sem parar um ”boa noite” muito sério. Infelizmente, depois disso, Mia não se lembrava de mais nada.

Mia acordou com a cabeça latejando. Sua boca estava tão seca quanto a sandália de Gandhi e sua visão, defeituosa. Apoiou-se em um dos cotovelos e tentou abrir os olhos, que, por algum motivo, estavam colados. Deu uma olhada ao seu redor. Estava claro, muito claro, e o quarto parecia estar girando. Algo muito estranho estava acontecendo. Mia avistou-se no espelho adiante e ficou assustada.

Teria sofrido algum acidente a noite passada? Suas energias a abandonaram e ela desmoronou em cheio sobre as costas novamente. De repente, o alarme começou a soar e ela ergueu ligeiramente a cabeça do travesseiro e abriu um dos olhos. ”Oh, leve o que quiser”, pensou, ”desde que você me traga um copo d’água antes de sair.” Depois de um curto tempo, ela percebeu que não era o alarme, mas o telefone tocando ao lado da cama.

- Alô? - grasnou.

- Ah, bem, eu não sou a única - soou uma voz muito doente na outra extremidade.

- Quem é? - grasnou Mia novamente.

- Meu nome é Eleanor, acho - veio a resposta -, mas não me pergunte quem é Eleanor, porque não sei. O homem ao meu lado na cama parece achar que o conheço. - Mia ouviu a risada alta de John ao fundo.

- Eleanor, o que aconteceu a noite passada? Por favor me esclareça.

- Aconteceu o álcool na noite passada - disse Eleanor sonolenta. — Muito, muito álcool.

- Alguma outra informação?

-Não.

- Sabe que horas são?

- Duas horas.

- Por que você está me ligando a esta hora da manhã?

- Da tarde, Mia.

- Oh! Como isto aconteceu?

— Gravidade ou algo parecido. Eu faltei esta aula na escola.

— Oh, Deus, acho que estou morrendo.

- Eu também.

- Acho que simplesmente vou voltar a dormir, talvez quando acorde o chão tenha parado de se mexer.

— Boa idéia, e Mia, bem-vinda ao clube dos trinta. Mia soltou um gemido.

- Não comecei da forma que pretendo continuar. A partir de agora, vou ser uma mulher de trinta anos sensível e madura.

— É, foi o que eu disse também. Boa noite.

- Boa noite.

Segundos mais tarde, Mia havia adormecido. Acordou em variados estágios durante o dia para atender ao telefone, todas as conversas parecendo fazer parte de seus sonhos. E fez diversas viagens à cozinha para se reidratar.

Por fim, às nove horas daquela noite, Mia sucumbiu às demandas gritantes de seu estômago por comida. Como sempre, não havia nada na geladeira, então decidiu curar-se com uma encomenda de comida chinesa. Encolheu-se de pijama na poltrona, assistindo à ótima programação de sábado à noite na TV, enquanto se empanturrava de comida. Após o trauma de se ver sem Harry em seu aniversário na véspera, Mia surpreendeu-se ao perceber que se sentia bastante satisfeita consigo mesma. Era a primeira vez, desde que Harry havia morrido, que se sentia confortável na própria companhia. Havia uma modesta chance de que conseguisse prosseguir sem ele.

Mais tarde naquela noite, Jack ligou para seu celular.

— Ei, mana, o que está fazendo?

— Assistindo à TV, comendo comida chinesa — disse ela.

— Bem, você parece em boa forma. Ao contrário da minha pobre namorada, que está aqui ao meu lado, sofrendo.

- Nunca mais vou sair com você, Mia - ela ouviu Abbey gritar debilmente ao fundo.

- Você e suas amigas corromperam a mente de Abbey - brincou ele.

- Não me culpe, ela estava se saindo muito bem por conta própria, até onde consigo me lembrar.

- Ela diz que não consegue se lembrar de nada.

— Nem eu. Talvez seja algo que ocorra assim que se chega aos trinta; isto nunca me aconteceu antes.

- Ou talvez seja apenas um plano diabólico de todas vocês, para não ter de nos contar o que aprontaram.

- Quem me dera... a propósito, obrigada pelo presente; é lindo.

- Fico feliz que tenha gostado. Levei séculos para encontrar a coisa certa.

- Mentiroso.

Ele riu.

- De qualquer maneira, estou ligando para saber se você vai à apresentação de

Declan amanhã à noite.

- Onde é?

- No Hogans.

— De jeito nenhum. Nunca mais coloco os pés num pub, principalmente para ouvir uma banda de rock escandalosa, com guitarras berrando e bateria barulhenta - declarou Mia.

- E a velha desculpa do ”Nunca mais vou beber novamente”, não é? Bem, não beba então. Por favor, vá, Mia. Declan está realmente nervoso e ninguém mais

— Ah, então sou o último recurso? Bom saber que você me tem em tão alta conta.

- Não é isto. Declan adoraria vê-la lá e quase não tivemos oportunidade de conversar naquele jantar; não saímos juntos há séculos - implorou ele.

- Bem, dificilmente vamos ter uma conversa íntima com o Peixe Orgástico martelando suas músicas - disse ela com sarcasmo.

- Na verdade, eles agora se chamam Morangos Negros, e acho que fazem um som suave e doce - riu ele.

Mia segurou a cabeça e suspirou:

- Por favor, não me faça ir, Jack.

— Você vai.

- OK, mas não vou ficar a noite toda.

- Bem, podemos discutir isto quando chegarmos lá. Declan vai ficar orgulhoso quando eu contar a ele; a família normalmente nunca vai a essas coisas.

- Certo então, por volta das oito?

- Perfeito.

Mia desligou e enterrou-se na poltrona por mais algumas horas. Sentia-se tão estufada que não conseguia se mover. Talvez toda aquela comida chinesa não tivesse sido uma boa idéia afinal de contas.

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9/10 - 01.08.2013 - xoxoxoxoxoxo

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