Don't Let Me Go - Capítulo 8
Mia estava diante do espelho de corpo inteiro e inspecionava a si mesma. Cumprira as ordens de Harry e comprara uma roupa nova. Para quê, não sabia, mas várias vezes todos os dias impedia-se, a duras penas, de abrir o envelope de maio. Faltavam somente dois dias, e a expectativa não deixava espaço para que pensasse em mais nada.
Decidira-se por um traje completamente negro, para combinar com seu humor atual. Calças pretas justas afinavam-lhe as pernas e pareciam feitas sob medida para descansar sobre suas botas pretas. Um colete preto, que a fazia parecer dotada de um seio maior, completava o traje com perfeição. Cléo fizera um trabalho maravilhoso em seu cabelo, prendendo-o no alto e deixando mechas caírem em frouxas ondulações ao redor de seus ombros. Mia correu os dedos pelos cabelos e sorriu à lembrança da hora que passara no cabeleireiro. Havia chegado ao salão com o rosto corado e sem fôlego.
- Sinto tanto, Cléo, fiquei presa ao telefone e não percebi a hora passar.
- Não se preocupe, querida, instruí a equipe para registrar para meia hora mais tarde sempre que você marca hora. Colin!- gritou ele, estalando os dedos no ar.
Colin deixou tudo e correu.
— Meu Deus, você está tomando tranqüilizante de cavalo ou algo especial?
Olhe só o comprimento do seu cabelo, e só o cortei há algumas semanas atrás. Ele calcou vigorosamente a cadeira, erguendo Mia mais alto.
— Alguma coisa especial esta noite? — perguntou ele, investindo contra a cadeira.
- Três-ponto-zero - disse ela, mordendo o lábio.
- O que é isto, o trajeto do seu ônibus local?
- Não, estou fazendo três-ponto-zero!
- Claro que eu sabia disso, querida, Colin! — gritou ele novamente, estalando os dedos no ar.
Com isso, Colin surgiu da sala dos funcionários atrás de Mia, com um bolo na mão, seguido de uma fila de cabeleireiros, que se juntaram a Cléo num coro de
Parabéns para você. Mia ficou muda.
- Cléo! - foi tudo que conseguiu dizer. Lutou contra as lágrimas que brotaram de seus olhos e fracassou miseravelmente. A essa altura, todo o salão estava envolvido e Mia sentia-se simplesmente atordoada com aquela demonstração de carinho.
Quando tudo terminou, todos aplaudiram e o trabalho normal foi retomado. Mia sentiu-se incapaz de falar.
- Deus todo-poderoso, Mia, uma semana você está aqui dentro rindo tanto que praticamente cai da cadeira, na próxima visita está chorando!
- Mas isto foi tão especial, Cléo, obrigada - disse ela, secando as lágrimas e dando-lhe um forte abraço e um beijo.
- Bem, eu tinha de arrasá-la depois de você ter me torturado - disse ele, afastando-a pelos ombros, pouco confortável ante aquela demonstração de sentimentalismo.
Ma riu, lembrando-se da festa surpresa nos cinqüenta anos de Cléo. O tema havia sido ”plumas e rendas”, se se lembrava bem. Mia usara um vestido rendado justo e Harry, que estava sempre pronto para uma brincadeira, usara uma cobra de plumas cor-de-rosa para combinar com sua camisa e gravata da mesma cor. Cléo queixou-se de estar insuportavelmente envergonhado, mas todos sabiam que secretamente adorava toda aquela atenção. No dia seguinte, ligou para os convidados e deixou uma mensagem ameaçadora em suas secretárias eletrônicas.
Mia ficou aterrorizada de marcar hora com Cléo nas semanas subseqüentes, temendo que ele a assassinasse. Houve quem dissesse que os negócios andaram devagar para Cléo naquela semana.
- Bem, você gostou do stripper naquela noite, de qualquer forma - provocou Mia.
- Gostei? Saí com ele durante um mês depois daquilo. O ordinário.
Uma fatia de bolo foi oferecida a cada cliente e todos se viraram para ela para agradecer.
- Não sei por que todos estão agradecendo a você - resmungou Cléo num sussurro. - Fui eu o idiota que comprou o bolo.
- Não se preocupe, Cléo , vou garantir que a gorjeta cubra a despesa.
— Ficou louca? Sua gorjeta não cobriria o custo da minha passagem de ônibus para casa.
- Cléo , você mora aqui ao lado.
- Exatamente!
Mia contraiu os lábios e fingiu estar aborrecida. Cléo riu.
- Trinta anos e você ainda age feito uma criancinha. Para onde vai esta noite?
- Não vou a nenhum lugar alucinante. Só quero uma noite normal, gostosa e tranqüila, com as meninas.
- Foi o que eu disse nos meus cinqüenta anos. Quem vai?
- Eleanor, Clara, Abbey e Denise, que não vejo há séculos.
- Clara voltou?
— Sim, ela e seu cabelo rosa.
— Bendita hora! Ela vai ficar longe de mim se souber o que é bom para ela. Certo madame, a senhora está fabulosa, vai ser a bela do baile; divirta-se!
Mia parou de sonhar acordada e voltou a olhar para seu reflexo no espelho do quarto. Não se sentia com trinta anos. Mas, por outro lado, como alguém com trinta anos deveria se sentir? Quando era mais jovem, os trinta pareciam tão distantes... Achava que uma mulher dessa idade seria muito sábia e inteligente, teria. a. vida estabelecida, com um marido, filhos e uma carreira. Ela não possuía nenhuma dessas coisas. Ainda se sentia tão perdida quanto aos vinte, somente com uns poucos cabelos brancos a mais e pés-de-galinha ao redor dos olhos. Sentou-se na beirada da cama e continuou a encarar a si mesma. Não havia nada que valesse a pena comemorar aos trinta. A campainha soou e Mia pôde ouvir a tagarelice e os risos excitados das garotas lá fora. Tentou animar-se, respirou fundo e plantou um sorriso no rosto.
— Feliz aniversário! — gritaram todas em uníssono.
Ela encarou aqueles rostos felizes e foi imediatamente contagiada por seu entusiasmo. Levou as amigas para a sala de estar e acenou para a câmera conduzida por Declan.
- Não, Mia, você deve ignorá-lo - sibilou Denise e arrastou Mia pelo braço até o sofá, onde todas a rodearam e imediatamente começaram a empurrar presentes na direção de seu rosto.
- Abra os meus primeiro - berrou Clara, golpeando Eleanor com tanta força para tirá-la do caminho, que ela foi cair longe do sofá. Eleanor congelou de horror, sem saber como reagir, então explodiu num riso nervoso.
- OK, acalme-se, todo mundo - disse a voz da razão (Abbey), lutando para levantar uma Eleanor histérica. - Acho que deveríamos estourar o champanhe primeiro e então abrir os presentes.
- Certo, desde que ela abra os meus primeiro - reclamou Clara.
- Clara, prometo abrir os seus primeiro. - Mia dirigiu-se a ela como se falasse a uma criança.
Abbey correu até a cozinha e voltou com uma bandeja repleta de taças de champanhe.
- Querem champanhe, queridinhas?
As taças haviam sido um presente de casamento e uma delas trazia gravados os nomes de Mia e Harry, à qual Abbey, com tato, removera do conjunto.
— Certo, Mia, você pode fazer as honras — disse Abbey, entregando-lhe a garrafa.
Todas correram para se proteger e abaixaram a cabeça quando Mia começou a remover a rolha.
- Ei, pessoal, não sou tão ruim assim!
- É, a esta altura ela é veterana nisto - disse Eleanor, surgindo de trás do sofá com uma almofada na cabeça.
As garotas aclamaram quando ouviram o ”pop” e arrastaram-se para fora de seus esconderijos.
- O som do paraíso - disse Denise dramática, pousando a mão sobre o coração.
- OK, agora abra meu presente! - gritou Clara novamente.
- Clara! - bradaram todas.
— Depois do brinde — acrescentou Eleanor. Elas ergueram suas taças.
— Tudo bem; para minha melhor dentre as melhores amigas do mundo, que teve um ano tão difícil, mas que, do princípio ao fim, foi a pessoa mais corajosa e mais forte que já conheci. Ela é uma inspiração para todas nós. Que ela seja feliz pelos próximos trinta anos de sua vida! A Mia!
- A Mia - responderam todas em coro. Seus olhos brilhavam sob o efeito das lágrimas quando tomaram um gole da bebida, exceto, claro, os de Clara, que havia virado de uma só vez sua taça de champanhe e lutava para entregar seu presente a Mia em primeiro lugar.
- OK, primeiro você precisa usar esta tiara, porque é nossa princesa por esta noite, e segundo, aqui está meu presente, de mim para você!
As garotas ajudaram Mia a colocar a tiara cintilante que, por sorte, combinava perfeitamente com seu colete preto reluzente e naquele momento, rodeada por suas amigas, sentiu-se uma princesa.
Mia removeu com cuidado a faixa do pacote primorosamente embrulhado.
- Oh, simplesmente rasgue! - disse Abbey para a surpresa de todas. Mia olhou para dentro da caixa, confusa.
- O que é isto?
- Leia! - disse Clara excitada.
Mia começou a ler em voz alta o que estava escrito na caixa:
- Funciona com bateria; é um... oh meu Deus! Clara! Como você é maliciosa! -
Mia e as garotas riam histericamente.
- Bem, eu definitivamente vou precisar disto - riu Mia, erguendo a caixa para a câmera.
Declan parecia prestes a vomitar.
- Gostou? - perguntou Clara buscando aprovação. - Eu queria dar isto a você no jantar no outro dia, mas achei que não seria apropriado...
- Meu Deus! Bem, estou contente que você o tenha guardado até agora! - riu
Mia, abraçando a irmã.
- OK, eu sou a próxima - disse Abbey, colocando seu embrulho no colo de Mia. - É meu e de Jack, portanto não espere nada parecido com o de Clara!
— Eu ia ficar preocupada se Jack me desse algo assim — disse ela, abrindo o presente de Abbey. - Oh, Abbey, é lindo! - exclamou Mia, segurando o álbum de fotografias revestido de prata de lei.
- Para suas novas recordações - disse Abbey baixinho.
— Oh, é perfeito — assegurou ela, envolvendo Abbey com os braços e estreitando-a. - Obrigada.
- Bem, o meu é menos sentimental, mas, como uma companheira do sexo feminino, tenho certeza de que vai gostar - disse Denise, entregando-lhe um envelope.
- Oh, genial! Sempre quis ir até lá - exclamou Mia quando o abriu. - Um fim de semana de mordomias na clínica de saúde e beleza Heaven’s.
— Deus, você fala como se estivesse indo a um encontro às escuras — provocou Eleanor.
- Então nos informe quando marcar a data; é válido por um ano, e o resto de nós pode reservar na mesma ocasião. Faça disto umas férias!
— Foi uma idéia incrível, Denise, obrigada!
- OK, último, mas não menos importante! - Mia piscou na direção de Eleanor. Eleanor remexia as mãos com nervosismo enquanto observava o rosto de Mia.
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8/10 - 01.08.2013 - xoxoxoxoxoxox
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