Don't Let Me Go - Capítulo 1

domingo, 21 de julho de 2013 | | |





Mia segurou a blusa de lã perto do rosto e imediatamente sentiu o perfume familiar, um pesar forte revirando seu estômago e pressionando seu peito. Sentiu um arrepio nas costas e na nuca e um nó sufocante na garganta. O pânico tomou conta dela. À exceção do zunido baixo da geladeira e dos barulhos ocasionais nos canos, a casa estava em silêncio. Ela estava sozinha. Sentiu ânsia de vômito e correu para o banheiro, onde caiu de joelhos diante do vaso sanitário.

Harry havia partido para nunca mais voltar. Era a realidade. Ela nunca mais passaria os dedos por seus cabelos macios, nunca mais dividiria com ele uma piada à mesa de um jantar com amigos, nunca mais reclamaria para ele quando chegasse em casa depois de um dia duro no trabalho, carente de um abraço, nunca mais dormiria na mesma cama que ele,  nunca mais acordaria com o ataque de espirros dele de manhã, nunca mais riria com ele até a barriga doer, nunca mais brigaria com ele para decidir de quem seria a vez de se levantar e apagar a luz do banheiro. Só restaram um monte de lembranças e a imagem do rosto dele que se tornava mais vaga a cada dia.

O plano dos dois era muito simples. Permanecer juntos pelo resto de suas vidas. Um plano que qualquer um em seu círculo de amigos concordaria que era realizável. Todos os consideravam excelentes amigos, amantes e almas gêmeas destinadas a ficarem juntas. Mas por acaso, um dia o destino havia mesquinhamente mudado de idéia.

O fim chegara cedo demais. Depois de se queixar de uma forte dor de cabeça por alguns dias, Harry concordara com a sugestão de Mia de procurar o médico.O que foi feito numa quarta-feira de trabalho, num intervalo de almoço. O médico achou que o sintoma devia-se ao estresse ou ao cansaço e declarou que, na pior das hipóteses, ele poderia precisar de óculos. Harry não havia ficado contente com aquilo. Andara se preocupando com a idéia de usar óculos. Ele não precisava ter se preocupado, já que, como foi descoberto, o problema não eram seus olhos.

Era o tumor crescendo dentro de seu cérebro. Mia deu a descarga no vaso sanitário e, tiritando por causa da friagem do chão revestido de cerâmica, firmou-se sobre os pés com passo vacilante. Ele tinha 30 anos. Não era de forma alguma o homem mais saudável da terra, mas era
saudável o bastante para... bem, para levar uma vida normal. Quando estava muito doente, corajosamente dizia brincando que não deveria ter vivido com tanta segurança.

Devia ter consumido drogas, bebido mais, viajado mais, saltado de aviões enquanto depilava as pernas... a lista continuava. Mesmo quando ele zombava a respeito, Mia conseguia enxergar o arrependimento em seus olhos. Arrependimento pelas coisas que nunca encontrara tempo para fazer, pelos lugares que nunca vira, e sofrimento pela perda das experiências futuras. Será que ele lamentava a vida que tivera com ela?

Mia nunca duvidara de que ele a amava, mas temia que sentisse haver perdido um tempo precioso.
Envelhecer tornou-se algo que ele desejava desesperadamente realizar, em vez de ser apenas uma temida fatalidade. Quão presunçosos ambos haviam sido em
jamais considerar o envelhecimento uma realização e um desafio. Ficar mais velhos era algo que queriam tanto evitar... Mia deslizou de um cômodo a outro enquanto derramava suas grossas e salgadas lágrimas.

Seus olhos estavam vermelhos e doloridos e aquela noite parecia não ter fim. Nenhum dos aposentos na casa a confortava. Somente silêncios indesejados à medida que fitava a mobília ao seu redor. Quis que o sofá lhe estendesse os braços, mas até mesmo ele a ignorou.

Harry não ficaria contente com aquilo, pensou. Respirou fundo, secou os olhos e tentou estimular algum bom senso dentro de si. Não, Harry não ficaria nada satisfeito.
Exatamente como vinha acontecendo em noites alternadas nas últimas semanas, Mia caiu num sono intermitente nas primeiras horas da manhã. Todos os dias, dava por si atravessada sobre alguma peça de mobília; naquele dia foi o sofá. Mais uma vez, um telefonema de um amigo preocupado ou um membro da família a acordou. Eles decerto pensavam que tudo que ela fazia era dormir. Onde estavam as ligações enquanto perambulava indiferente pela casa como um zumbi, procurando nos aposentos... o quê? O que esperava encontrar?

— Alô — respondeu com voz fraca. Estava rouca em conseqüência das lágrimas, mas havia muito parara de se preocupar em parecer forte para quem quer fosse. Seu melhor amigo partira e ninguém entendia que maquilagem alguma, ar fresco ou fazer compras iria preencher o vazio em seu coração.

- Oh, desculpe, querida, acordei você? - a voz preocupada da mãe de Mia soou através da linha. Sempre a mesma conversa. Todas as manhãs sua mãe ligava para ver se ela sobrevivera à noite sozinha. Sempre com medo de acordá-la, ainda assim sempre aliviada ao ouvir-lhe a respiração; sentindo-se segura ao saber que a filha havia enfrentado os fantasmas noturnos.

- Não, eu estava somente cochilando, está tudo bem. - Sempre a mesma resposta.

- Seu pai e Declan saíram e eu estava pensando em você, querida. Por que aquela voz suave, simpática, sempre produzia lágrimas nos olhos de Mia? Ela podia imaginar o rosto preocupado da mãe, sobrancelhas franzidas, testa vincada de preocupação. Aquilo a fez lembrar-se do porquê de estarem todos preocupados, quando não deveriam estar. Tudo deveria estar normal. Mia deveria achar-se ali ao lado dela, girando os olhos na direção do teto, tentando fazê-la rir à medida que sua mãe tagarelava. Tantas vezes Mia tivera de entregar o telefone a Harry, tomada por um acesso de riso. Então ele começava a conversar, ignorando Mia enquanto ela pulava ao redor da cama, ensaiando as caretas mais bobas e executando as danças mais engraçadas somente para tê-lo de volta. Raras vezes funcionava.

Ela fez ”hummm” e ”ahh” durante a conversa, ouvindo, mas sem escutar uma palavra.

- Está um dia lindo, Mia. Faria um bocado bem a você sair para dar um passeio. Pegue um pouco de ar fresco.

- Hummm, acho que sim. - Lá estava novamente, ar fresco - a suposta solução para todos os seus problemas.

- Talvez eu ligue mais tarde e possamos conversar.

- Não, obrigada, mãe, estou bem. Silêncio.

- Tudo certo, então... telefone se mudar de idéia. Estou livre o dia todo.

-OK.- Outro silêncio.

- Obrigada, de qualquer forma.

- Certo, então... cuide-se, querida.

- Vou fazer isto. - Mia estava prestes a recolocar o fone no gancho quando ouviu a voz de sua mãe novamente.

- Oh, Mia, quase esqueci. Aquele envelope para você ainda está aqui, sabe, aquele do qual lhe falei. Está sobre a mesa da cozinha. Você pode querer pegá-lo, está aqui há semanas e deve ser importante.

— Duvido. Provavelmente é outro cartão.

- Não, não acho que seja, meu amor. Está endereçado a você e acima do seu nome diz... oh, espere enquanto o pego em cima da mesa... — O fone sendo abaixado, som de saltos de sapato sobre a cerâmica em direção à mesa, cadeira arranhando o chão, passos ficando mais altos, o fone sendo levantado...

— Você ainda está aí?

- Estou.

- Certo, está escrito no alto ”A Lista”. Não tenho certeza do que isto significa, meu amor. Vale a pena dar uma...

Mia deixou cair o fone.

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Então... como Don't Let Me Go ganhou...


Ta aí o primeiro capitulo :( kkk'
Continuo com 7 comentários? xoxoxo

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