Don't Let Me Go - Capítulo 7 Part. 2/2

quinta-feira, 1 de agosto de 2013 | | |




— Ei, o pobrezinho do Timmy deve estar morrendo de fome lá fora — exclamou Clara para Richard. — Ele já deve ter cumprido sua pena agora.

Ela sabia que estava pisando em terreno perigoso, mas adorava o perigo e, mais importante, adorava aborrecer Richard. Afinal, precisava recuperar o tempo perdido, ficara longe por um ano.

- Clara, é importante que Richard saiba quando fez algo errado - explicou Richard.

— É, mas você não pode apenas dizer isto a ele? O restante da família fez força para não rir.

- Ele precisa saber que suas ações podem ter conseqüências sérias, para não repeti-las.

- Bem - disse ela, elevando a voz em algumas oitavas -, ele está perdendo toda esta comida deliciosa. Hummmmmmmmm — acrescentou, lambendo os beiços.

- Pare com isto, Clara - cortou Elizabeth.

- Ou você vai ter de ficar de pé no canto da parede - acrescentou Jack com voz severa.

A mesa desatou a rir, exceto Meredith e Richard, claro.

- Então Clara, conte-nos suas aventuras na Austrália - atalhou Frank rapidamente.

Os olhos de Clara se acenderam.

— Oh, foi um período maravilhoso, pai, eu definitivamente recomendo a qualquer um que vá até lá.

- No entanto é um vôo horrivelmente longo - disse Richard.

- É, mas vale a pena.

- Você fez mais alguma tatuagem? - perguntou Mia.

— Fiz, veja. — Dizendo isso, Clara levantou-se e abaixou as calças, mostrando uma borboleta no traseiro.

Mamãe, papai, Richard e Meredith protestaram escandalizados, enquanto os outros dobravam-se de tanto rir. Isso prosseguiu por longo tempo. Por fim, quando Clara havia pedido desculpas e Meredith havia retirado a mão dos olhos de Emily, a mesa se acalmou.

- São coisas nojentas - disse Richard com aversão.

- Acho as borboletas bonitas, papai - disse Emily com grandes olhos inocentes.

— Sim, algumas borboletas são bonitas, Emily, mas estou falando sobre tatuagens. Elas podem provocar todo tipo de doenças e problemas. — O sorriso de Emily desapareceu.

— Ei, não fiz isto num lugar suspeito, compartilhando agulhas com traficantes de drogas, sabe? O lugar era perfeitamente limpo.

- Bem, isso é um paradoxo, se é que já ouvi algum - disse Meredith repugnada.

- Esteve num desses lugares recentemente, Meredith? - perguntou Clara, forçando um pouco demais a barra.

— Bem, em... n-n-não — gaguejou ela —, nunca estive num lugar assim, muito obrigada, mas sei que eles existem. - Então se virou para Emily. São lugares sujos, horríveis, Emily, aonde só vai gente perigosa.

- Tia Clara é perigosa, mamãe?

- Só para menininhas de cinco anos com cabelo vermelho - disse Clara, estufando as bochechas.

Emily congelou.

— Richard, querido, não acha que Timmy pode vir agora para comer alguma coisa? - perguntou Elizabeth educadamente.

- É Timothy - cortou Meredith.

- Sim, mãe, acho que está tudo bem.

Um Timothy muito desconsolado entrou devagar no aposento com a cabeça baixa e silenciosamente ocupou seu lugar ao lado de Declan. O coração de Mia transbordou por ele. Como era cruel tratar uma criança daquela forma, como era cruel impedir o garoto de ser criança... seus pensamentos compassivos reduziram-se no mesmo instante, quando sentiu o pequeno pé do garoto chutar-lhe a perna por baixo da mesa. Deveriam tê-lo deixado lá fora.

- Então Clara, vamos, conte as fofocas, fez alguma coisa louca e maravilhosa por lá? - Mia pressionou-a por mais informações.

- Oh sim, na verdade fiz um bungee-jump, bem, fiz alguns. Tenho a fotografia aqui. — Ela remexeu em seu bolso de trás e todos desviaram o olhar a título de prevenção, caso ela estivesse planejando revelar mais alguma parte de sua anatomia. Felizmente, ela apenas removeu a carteira; fez circular a foto ao redor da mesa e continuou a explicar.

- O primeiro que fiz foi de uma ponte e minha cabeça bateu na água quando caí...

- Oh Clara, isto parece perigoso - disse sua mãe com as mãos no rosto.

- Não, não é perigoso mesmo - assegurou ela.

A foto foi passada para Mia e ela e Jack desataram a rir. Clara estava pendurada de cabeça para baixo numa corda, com o rosto contorcido em meio a um grito de puro terror. Seu cabelo (azul, na ocasião) lançava-se em todas as direções, como se ela houvesse sido eletrocutada.

— Foto atraente, Clara. Mãe, você precisa emoldurar isto para colocar em cima da lareira — brincou Mia.

- Sim! - Os olhos de Clara iluminaram-se quando aquele pensamento a alcançou. - É uma idéia incrível.

— Claro, querida, simplesmente vou tirar aquele em que você está fazendo sua Primeira Comunhão e substituir por este — disse Elizabeth sarcástica.

- Bem, não sei qual deles é mais assustador - disse Declan.

- Mia, o que você vai fazer no seu aniversário? - perguntou Abbey, inclinandose na direção de Mia. Ela estava visivelmente louca para cair fora da conversa que estava tendo com Richard.

- Oh, isto mesmo! - gritou Clara. - Você vai fazer trinta em algumas semanas!

— Não vou fazer nada demais — ela preveniu a todos. — Não quero nenhuma festa surpresa ou qualquer coisa do gênero, por favor.

- Oh, você tem de... - disse Clara.

- Não, ela não é obrigada a nada se não quiser - seu pai interrompeu e piscou em sinal de apoio na direção de Mia.

- Obrigada, pai. Vou apenas sair com as garotas para dançar e beber ou algo parecido. Nada louco, nada selvagem.

Richard manifestou desaprovação quando a fotografia o alcançou e passou-a a seu pai, que abafou o riso à vista de Clara.

- Sim, concordo com você, Mia - disse Richard -, estas comemorações de aniversário são sempre um pouco constrangedoras. Adultos agindo como crianças, fazendo brincadeiras infantis e bebendo demais. Você está totalmente certa.

- Bem, na verdade adoro estas festas, Richard - replicou Mia -, mas simplesmente não estou com o humor muito festivo este ano, só isso.

Fez-se silêncio por um momento, antes que Clara se intrometesse:

— Então vai ser uma noite com as garotas.

— Posso dar uma de penetra com minha câmera? — perguntou Declan.

— Para quê?

— Só para conseguir uma seqüência sobre boates e material para a faculdade.

- Bem, se isto vai ajudar... mas você sabe que não vou aos lugares da moda de que você gosta.

- Não, não me importa aonde você v... AI! - gritou ele e encarou Timothy ameaçadoramente.

Timmy estendeu-lhe a língua e a conversa continuou. Depois que o primeiro prato havia terminado, Clara deixou o aposento e voltou com uma sacola cheia nas mãos, anunciando:

— Presentes!!

Timothy e Emily aplaudiram. Mia esperava que Clara houvesse se lembrado de trazer algo para eles. Seu pai ganhou um bumerangue colorido, que ele fingiu atirar na mulher; Richard recebeu uma camiseta com um mapa da Austrália, que ele imediatamente passou a explicar para Timmy e Emily à mesa; Meredith, comicamente, não recebeu nada; Jack e Declan ganharam camisetas com fotos depravadas e um texto dizendo ”Fiquei na moita”; a mãe de Mia recebeu uma coleção de receitas aborígines e a Mia tocou um ”apanhador de sonhos”, peça de artesanato que agarrava os sonhos bons e filtrava os maus, feito com penas muito coloridas e varetas.

— Para que todos os seus sonhos se tornem realidade — Clara havia sussurrado em seu ouvido antes de dar-lhe um beijo na bochecha.

Felizmente Clara havia trazido balas para Timmy e Emily, que se pareciam estranhamente com as que se poderia comprar no armazém local. Estas foram rapidamente arrebatadas por Richard e Meredith, que reclamaram que elas estragariam os dentes dos garotos.

— Bem, devolva-as para que eu possa estragar os meus — exigiu Clara. Timmy e Emily olharam com ar triste para os presentes que todos haviam recebido, e Richard imediatamente os castigou por não se concentrarem no mapa da Austrália.

Timmy fez uma careta na direção de Mia e um sentimento afetuoso voltou ao seu coração. Sempre que as crianças agiam como se merecessem o tratamento duro que recebiam, era mais fácil para Mia lidar com ele. Na verdade, chegava quase a apreciar que fosse aplicado.

- Acho melhor pegarmos a estrada, Richard, ou as crianças vão cair de sono — anunciou Meredith. As crianças, entretanto, estavam bem acordadas e chutavam

Mia e Declan sob a mesa repetidas vezes.

- Bem, antes que todo mundo desapareça - declarou o pai de Mia em voz alta, sobrepujando a conversa. A mesa silenciou. - Eu gostaria de propor um brinde a nossa linda filha Clara, já que este é seu jantar de boas-vindas. - Ele sorriu para a filha e Clara adorou toda aquela atenção.

- Sentimos sua falta, querida, e estamos contentes de que esteja em casa em segurança - completou Frank. Ergueu o copo no ar. - A Clara!

— A Clara! — repetiram todos, e liquidaram o conteúdo de seus copos.

Assim que a porta se fechou atrás de Richard e Meredith, todos, um por um, começaram a sair. Mia deu um passo em direção ao ar gelado e caminhou até o carro sozinha. Sua mãe e seu pai ficaram na porta acenando enquanto ela se afastava, mas ainda assim se sentiu solitária. Normalmente, saía dos jantares com Harry; se não com ele, voltava para casa para ele. Mas não naquela noite, ou na seguinte, ou na noite depois dessa.

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7/10 - 29.07.2013 - xoxoxoxox

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