Don't Let Me Go - Capítulo 7 Part. 2/2
— Ei, o pobrezinho do Timmy deve estar morrendo de fome lá fora — exclamou Clara para Richard. — Ele já deve ter cumprido sua pena agora.
Ela sabia que estava pisando em terreno perigoso, mas adorava o perigo e, mais importante, adorava aborrecer Richard. Afinal, precisava recuperar o tempo perdido, ficara longe por um ano.
- Clara, é importante que Richard saiba quando fez algo errado - explicou Richard.
— É, mas você não pode apenas dizer isto a ele? O restante da família fez força para não rir.
- Ele precisa saber que suas ações podem ter conseqüências sérias, para não repeti-las.
- Bem - disse ela, elevando a voz em algumas oitavas -, ele está perdendo toda esta comida deliciosa. Hummmmmmmmm — acrescentou, lambendo os beiços.
- Pare com isto, Clara - cortou Elizabeth.
- Ou você vai ter de ficar de pé no canto da parede - acrescentou Jack com voz severa.
A mesa desatou a rir, exceto Meredith e Richard, claro.
- Então Clara, conte-nos suas aventuras na Austrália - atalhou Frank rapidamente.
Os olhos de Clara se acenderam.
— Oh, foi um período maravilhoso, pai, eu definitivamente recomendo a qualquer um que vá até lá.
- No entanto é um vôo horrivelmente longo - disse Richard.
- É, mas vale a pena.
- Você fez mais alguma tatuagem? - perguntou Mia.
— Fiz, veja. — Dizendo isso, Clara levantou-se e abaixou as calças, mostrando uma borboleta no traseiro.
Mamãe, papai, Richard e Meredith protestaram escandalizados, enquanto os outros dobravam-se de tanto rir. Isso prosseguiu por longo tempo. Por fim, quando Clara havia pedido desculpas e Meredith havia retirado a mão dos olhos de Emily, a mesa se acalmou.
- São coisas nojentas - disse Richard com aversão.
- Acho as borboletas bonitas, papai - disse Emily com grandes olhos inocentes.
— Sim, algumas borboletas são bonitas, Emily, mas estou falando sobre tatuagens. Elas podem provocar todo tipo de doenças e problemas. — O sorriso de Emily desapareceu.
— Ei, não fiz isto num lugar suspeito, compartilhando agulhas com traficantes de drogas, sabe? O lugar era perfeitamente limpo.
- Bem, isso é um paradoxo, se é que já ouvi algum - disse Meredith repugnada.
- Esteve num desses lugares recentemente, Meredith? - perguntou Clara, forçando um pouco demais a barra.
— Bem, em... n-n-não — gaguejou ela —, nunca estive num lugar assim, muito obrigada, mas sei que eles existem. - Então se virou para Emily. São lugares sujos, horríveis, Emily, aonde só vai gente perigosa.
- Tia Clara é perigosa, mamãe?
- Só para menininhas de cinco anos com cabelo vermelho - disse Clara, estufando as bochechas.
Emily congelou.
— Richard, querido, não acha que Timmy pode vir agora para comer alguma coisa? - perguntou Elizabeth educadamente.
- É Timothy - cortou Meredith.
- Sim, mãe, acho que está tudo bem.
Um Timothy muito desconsolado entrou devagar no aposento com a cabeça baixa e silenciosamente ocupou seu lugar ao lado de Declan. O coração de Mia transbordou por ele. Como era cruel tratar uma criança daquela forma, como era cruel impedir o garoto de ser criança... seus pensamentos compassivos reduziram-se no mesmo instante, quando sentiu o pequeno pé do garoto chutar-lhe a perna por baixo da mesa. Deveriam tê-lo deixado lá fora.
- Então Clara, vamos, conte as fofocas, fez alguma coisa louca e maravilhosa por lá? - Mia pressionou-a por mais informações.
- Oh sim, na verdade fiz um bungee-jump, bem, fiz alguns. Tenho a fotografia aqui. — Ela remexeu em seu bolso de trás e todos desviaram o olhar a título de prevenção, caso ela estivesse planejando revelar mais alguma parte de sua anatomia. Felizmente, ela apenas removeu a carteira; fez circular a foto ao redor da mesa e continuou a explicar.
- O primeiro que fiz foi de uma ponte e minha cabeça bateu na água quando caí...
- Oh Clara, isto parece perigoso - disse sua mãe com as mãos no rosto.
- Não, não é perigoso mesmo - assegurou ela.
A foto foi passada para Mia e ela e Jack desataram a rir. Clara estava pendurada de cabeça para baixo numa corda, com o rosto contorcido em meio a um grito de puro terror. Seu cabelo (azul, na ocasião) lançava-se em todas as direções, como se ela houvesse sido eletrocutada.
— Foto atraente, Clara. Mãe, você precisa emoldurar isto para colocar em cima da lareira — brincou Mia.
- Sim! - Os olhos de Clara iluminaram-se quando aquele pensamento a alcançou. - É uma idéia incrível.
— Claro, querida, simplesmente vou tirar aquele em que você está fazendo sua Primeira Comunhão e substituir por este — disse Elizabeth sarcástica.
- Bem, não sei qual deles é mais assustador - disse Declan.
- Mia, o que você vai fazer no seu aniversário? - perguntou Abbey, inclinandose na direção de Mia. Ela estava visivelmente louca para cair fora da conversa que estava tendo com Richard.
- Oh, isto mesmo! - gritou Clara. - Você vai fazer trinta em algumas semanas!
— Não vou fazer nada demais — ela preveniu a todos. — Não quero nenhuma festa surpresa ou qualquer coisa do gênero, por favor.
- Oh, você tem de... - disse Clara.
- Não, ela não é obrigada a nada se não quiser - seu pai interrompeu e piscou em sinal de apoio na direção de Mia.
- Obrigada, pai. Vou apenas sair com as garotas para dançar e beber ou algo parecido. Nada louco, nada selvagem.
Richard manifestou desaprovação quando a fotografia o alcançou e passou-a a seu pai, que abafou o riso à vista de Clara.
- Sim, concordo com você, Mia - disse Richard -, estas comemorações de aniversário são sempre um pouco constrangedoras. Adultos agindo como crianças, fazendo brincadeiras infantis e bebendo demais. Você está totalmente certa.
- Bem, na verdade adoro estas festas, Richard - replicou Mia -, mas simplesmente não estou com o humor muito festivo este ano, só isso.
Fez-se silêncio por um momento, antes que Clara se intrometesse:
— Então vai ser uma noite com as garotas.
— Posso dar uma de penetra com minha câmera? — perguntou Declan.
— Para quê?
— Só para conseguir uma seqüência sobre boates e material para a faculdade.
- Bem, se isto vai ajudar... mas você sabe que não vou aos lugares da moda de que você gosta.
- Não, não me importa aonde você v... AI! - gritou ele e encarou Timothy ameaçadoramente.
Timmy estendeu-lhe a língua e a conversa continuou. Depois que o primeiro prato havia terminado, Clara deixou o aposento e voltou com uma sacola cheia nas mãos, anunciando:
— Presentes!!
Timothy e Emily aplaudiram. Mia esperava que Clara houvesse se lembrado de trazer algo para eles. Seu pai ganhou um bumerangue colorido, que ele fingiu atirar na mulher; Richard recebeu uma camiseta com um mapa da Austrália, que ele imediatamente passou a explicar para Timmy e Emily à mesa; Meredith, comicamente, não recebeu nada; Jack e Declan ganharam camisetas com fotos depravadas e um texto dizendo ”Fiquei na moita”; a mãe de Mia recebeu uma coleção de receitas aborígines e a Mia tocou um ”apanhador de sonhos”, peça de artesanato que agarrava os sonhos bons e filtrava os maus, feito com penas muito coloridas e varetas.
— Para que todos os seus sonhos se tornem realidade — Clara havia sussurrado em seu ouvido antes de dar-lhe um beijo na bochecha.
Felizmente Clara havia trazido balas para Timmy e Emily, que se pareciam estranhamente com as que se poderia comprar no armazém local. Estas foram rapidamente arrebatadas por Richard e Meredith, que reclamaram que elas estragariam os dentes dos garotos.
— Bem, devolva-as para que eu possa estragar os meus — exigiu Clara. Timmy e Emily olharam com ar triste para os presentes que todos haviam recebido, e Richard imediatamente os castigou por não se concentrarem no mapa da Austrália.
Timmy fez uma careta na direção de Mia e um sentimento afetuoso voltou ao seu coração. Sempre que as crianças agiam como se merecessem o tratamento duro que recebiam, era mais fácil para Mia lidar com ele. Na verdade, chegava quase a apreciar que fosse aplicado.
- Acho melhor pegarmos a estrada, Richard, ou as crianças vão cair de sono — anunciou Meredith. As crianças, entretanto, estavam bem acordadas e chutavam
Mia e Declan sob a mesa repetidas vezes.
- Bem, antes que todo mundo desapareça - declarou o pai de Mia em voz alta, sobrepujando a conversa. A mesa silenciou. - Eu gostaria de propor um brinde a nossa linda filha Clara, já que este é seu jantar de boas-vindas. - Ele sorriu para a filha e Clara adorou toda aquela atenção.
- Sentimos sua falta, querida, e estamos contentes de que esteja em casa em segurança - completou Frank. Ergueu o copo no ar. - A Clara!
— A Clara! — repetiram todos, e liquidaram o conteúdo de seus copos.
Assim que a porta se fechou atrás de Richard e Meredith, todos, um por um, começaram a sair. Mia deu um passo em direção ao ar gelado e caminhou até o carro sozinha. Sua mãe e seu pai ficaram na porta acenando enquanto ela se afastava, mas ainda assim se sentiu solitária. Normalmente, saía dos jantares com Harry; se não com ele, voltava para casa para ele. Mas não naquela noite, ou na seguinte, ou na noite depois dessa.
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7/10 - 29.07.2013 - xoxoxoxox
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